A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a principal forma de comunicação da comunidade surda no país e foi reconhecida oficialmente em 2002 pela Lei nº 10.436. Desde então, importantes avanços ocorreram, como a obrigatoriedade de intérpretes em serviços públicos. No entanto, o Brasil ainda convive com grandes desafios na inclusão efetiva dos surdos — especialmente na educação e na acessibilidade cotidiana.
Estima-se que 10 milhões de brasileiros convivem com algum grau de surdez, segundo o IBGE, mas apenas cerca de 2,5 milhões usam a Libras como principal meio de comunicação. Essa lacuna revela obstáculos significativos para o pleno exercício da cidadania e da autonomia dessas pessoas.
Patrícia Sposito, pedagoga, pós-graduada em educação para surdos e colaboradora do setor de marketing do Laboratório Teuto, é exemplo disso. Surda desde a infância, ela só teve contato com a Libras aos 17 anos. "Aprendi Libras com uma missionária e depois busquei mais conhecimento na Associação dos Surdos de Goiânia (ASG). A curiosidade me impulsionou", relata.
Durante toda a educação básica, Patrícia estudou sem o apoio de intérpretes. "Sentava perto do professor e tentava acompanhar, mas era muito difícil. Meus colegas me ajudavam como podiam", lembra. Foi apenas na fase adulta que teve acesso ao trabalho de um tradutor-intérprete de Língua de Sinais (TILS), experiência que transformou sua trajetória acadêmica e profissional. "Parei de sofrer. Mas lamento não ter tido esse apoio desde o início", afirma.
Segundo o Censo Escolar, apenas 33% das escolas públicas brasileiras estão equipadas para atender alunos surdos com intérpretes ou salas bilíngues, o que evidencia a urgência em expandir a estrutura de apoio à educação inclusiva.
Para muitos surdos, a falta de acessibilidade é uma dificuldade constante. Mesmo em situações simples, a comunicação pode se tornar um desafio. "Quando a pessoa fala rápido ou não articula bem, é difícil entender. Precisamos de comunicação clara e pausada", explica Patrícia. A presença de intérpretes em espaços como igrejas e eventos sociais faz toda a diferença em sua participação ativa.
Além da educação, iniciativas dentro das empresas também são fundamentais. No Laboratório Teuto, por exemplo, ações de inclusão vêm sendo implementadas por meio do programa "Emprego Apoiado", que visa integrar pessoas com deficiência de forma mais efetiva. Durante a "Feira de Diversidade e Inclusão" promovida pela empresa, são oferecidas oficinas práticas de Libras para os colaboradores, ensinando cumprimentos e sinais básicos.
Para Patrícia, a disseminação da Libras desde a infância, tanto para surdos quanto para ouvintes, é essencial para construir uma sociedade realmente inclusiva. "Se você consegue se comunicar bem, consegue fazer tudo. Por isso é tão importante ter acesso à educação em Libras o quanto antes", reforça.
Promover o acesso à Libras e garantir estruturas de apoio não é apenas uma questão de inclusão: é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A superação dos desafios atuais depende do fortalecimento de políticas públicas, da formação de professores bilíngues, da ampliação do acesso a intérpretes e da conscientização da sociedade sobre a importância da comunicação acessível para todos.