Estima-se que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo estejam dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, a estimativa gira em torno de 2 milhões de indivíduos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O autismo é considerado o transtorno do neurodesenvolvimento com maior crescimento nos últimos anos, o que pode ser explicado pelo aumento da conscientização e pelo incentivo ao diagnóstico precoce.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, uma a cada 36 crianças é diagnosticada com autismo. O transtorno é mais frequente no sexo masculino e se manifesta, principalmente, por dificuldades na comunicação e interação social, além de padrões comportamentais repetitivos.
Um dos sinais mais precoces e marcantes do TEA é o transtorno de linguagem, conforme explica a otorrinolaringologista pediátrica Juliana Caixeta. "A alteração de linguagem é considerada um dos critérios para o diagnóstico do autismo, pois impacta diretamente a comunicação social e as interações", afirma.
As alterações de linguagem podem ser percebidas ainda no primeiro ano de vida. De acordo com a médica, sinais como choro pouco expressivo, dificuldade de contato visual, ausência de resposta ao nome e desinteresse pelo colo dos pais são indícios que merecem atenção. Em muitos casos, entre 1 e 2 anos, a criança pode apresentar uma fala inicial que não se sustenta ou desaparece com o tempo.
"Alguns pais relatam que a criança parou de falar palavras que já havia aprendido. O mais comum, porém, é que a fala simplesmente não se desenvolva de forma adequada", explica Juliana.
Além disso, é comum que a criança use o adulto como meio para se comunicar, puxando pela mão, por exemplo, em vez de verbalizar o que deseja.
Entre 2 e 3 anos, outras características se tornam mais evidentes, como a ecolalia (repetição de palavras ou frases sem objetivo comunicativo), dificuldade em estruturar frases ou contar histórias, entonação monótona, e até hiperlexia – quando a criança aprende a ler precocemente, mas apresenta déficits em outras habilidades cognitivas.
A especialista alerta que outras condições também podem causar alterações de linguagem semelhantes às do TEA. Por isso, é fundamental buscar uma avaliação multidisciplinar. O acompanhamento com fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas é essencial, especialmente para descartar problemas auditivos que possam interferir no desenvolvimento da fala.
“Toda criança com atraso de fala merece investigação, mesmo que ainda não haja um diagnóstico de autismo confirmado”, destaca Juliana Caixeta.
Já na vida adulta, o autismo pode se manifestar por meio de dificuldades na interpretação da linguagem figurada, como ironia, sarcasmo e duplos sentidos. Mesmo em casos de autismo de alto funcionamento, essas dificuldades podem impactar a socialização e a vida profissional.
Apesar dos avanços, o TEA ainda é cercado por desinformação e preconceito. Por isso, especialistas reforçam a necessidade de falar mais sobre o assunto e garantir acesso a diagnóstico precoce, tratamento adequado e inclusão.
“Precisamos conhecer melhor o autismo, entender suas múltiplas formas de manifestação e, sobretudo, respeitar a diversidade. Informação é a principal ferramenta para promover a inclusão”, conclui a médica.