O comércio em Goiás está apreensivo com a escalada na taxa básica de juros, a Selic, fixada agora a 13,25% ao ano, após o reajuste feito em janeiro pelo Banco Central. Com os juros nesse patamar, o setor prevê perdas de até 10% nas vendas neste 1º semestre, segundo calcula o Sindilojas-GO (Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás). A percepção do Sindilojas-GO é de que a manutenção da taxa Selic no patamar que está colocaria a perder os resultados positivos que o varejo goiano alcançou em 2024, quando cresceu 6,0% no ano, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio divulgada hoje (13) pelo IBGE.
Cristiano Caixeta, presidente do Sindilojas-GO, acredita que o impacto negativo no faturamento das lojas é inevitável. Isto porque o crédito mais caro desestimula o consumo e provoca uma corrida mais competitiva por produtos com desconto. Esse movimento, porém, inviabiliza as vendas dos pequenos comércios, que têm baixa margem de lucro frente a grandes redes, vez que elas compram dos fornecedores em larga escala, a preços menores.
Outra preocupação é com as dificuldades que o consumidor encontrará para ter acesso a crédito. Quase 90% das vendas do varejo brasileiro são parceladas no cartão de crédito, segundo estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). "Esse indicador diz tudo sobre o que representa para o comércio uma má condução da política de juros. O cenário, de fato, é preocupante", diz Cristiano Caixeta.
Os juros em alta e o consequente crédito mais caro prejudicam também a reposição dos estoques nas empresas. É que a grande maioria delas compra dos fornecedores para pagar a prazo, ou seja, depende de bancos para financiar essas compras parceladas. Analistas do mercado acreditam que a taxa Selic provavelmente chegará a 15% ao ano até o final de 2025. Nesse panorama, o Sindilojas-GO teme um efeito bola de neve na economia, com consumidores e empresas diminuindo as compras, afetando, inclusive, a indústria.
Para o economista Aurélio Troncoso, os reajustes aplicados à Selic não surtem efeito porque o país vivencia hoje uma inflação não de demanda, da lei da oferta e da procura, mas uma inflação de preços administrados, ou seja, de aumento no valor de insumos como combustíveis, gás e energia, que agregam no preço final de produtos nacionais. "A política monetária praticada pelo Banco Central está errada. E o maior problema é que o BC até hoje não identificou isso, apesar de situações semelhantes já terem acontecido no passado. Nesse modelo, o Banco Central pode subir a taxa de juros o tanto que for, que a inflação continuará subindo junto", explica o especialista.